Manejo Racional dos Bovinos: O Conforto do Gado é Dinheiro no Bolso do Pecuarista

MANEJO

Veterinário Edson Martins

Enquanto muitos pecuaristas ainda se apegam a métodos tradicionais que geram estresse nos bovinos e prejuízos econômicos significativos, aqueles que adotam práticas racionais colhem benefícios impressionantes: aumento de até 15% na produtividade, redução de doenças no rebanho e maior valorização do produto final.

Manejo Racional do Gado: Como Transformar a Produtividade da Sua Fazenda

O manejo racional do gado representa um avanço silencioso nas fazendas de todo o mundo, transformando resultados financeiros enquanto promove bem-estar animal. Para além de uma questão ética, as técnicas de manejo adequadas impactam diretamente na qualidade da carne, na produção leiteira e na segurança dos colaboradores. Para o pecuarista, entender a importância do manejo racional do gado não é apenas uma questão de bem-estar animal, mas uma estratégia fundamental para o sucesso econômico do negócio. O modo como lidamos com os bovinos influencia diretamente nos resultados produtivos e financeiros da propriedade rural.

O que é realmente o manejo racional na pecuária?

O manejo racional consiste em práticas que respeitam o comportamento natural do gado, minimizando o estresse e promovendo condições adequadas para seu desenvolvimento. Diferente do que muitos pensam, não se trata apenas de "tratar bem os animais", mas de aplicar conhecimentos técnicos e científicos para otimizar a produção.

Na prática diária da fazenda, isso significa compreender como os bovinos percebem o ambiente, como reagem a diferentes estímulos e como podemos trabalhar a favor desses comportamentos naturais, não contra eles.

Vantagens do manejo racional para a produtividade

Os benefícios de adotar o manejo racional são múltiplos e impactam diretamente nos números do seu negócio:

  • Aumento da produtividade de carne e leite: Bovinos menos estressados convertem melhor os alimentos em ganho de peso ou produção leiteira.

  • Melhor qualidade da carne: O estresse pré-abate pode causar alterações bioquímicas que afetam negativamente características como maciez, coloração e pH da carne.

  • Redução da morbidade e mortalidade: Animais manejados adequadamente ficam menos suscetíveis a doenças, reduzindo custos com medicamentos e perdas produtivas.

  • Otimização da reprodução: Vacas menos estressadas apresentam melhor desempenho reprodutivo, com ciclos mais regulares e melhores taxas de concepção.

Os riscos do manejo inadequado: prejuízos reais

Quando falamos em manejo inadequado, não se trata apenas de maus-tratos explícitos. Muitas vezes, práticas consideradas "normais" ou "tradicionais" na pecuária brasileira representam manejo ruim e trazem consequências sérias:

Impactos econômicos na fazenda

O agronegócio brasileiro ainda perde milhões anualmente devido a práticas inadequadas de manejo. Entre os prejuízos diretos, podemos destacar:

  • Contusões e hematomas na carne, que reduzem seu valor comercial

  • Perda de peso dos animais durante transporte estressante (até 10% do peso vivo em casos extremos)

  • Menor conversão alimentar em ambientes estressantes

  • Redução na produção leiteira (estudos mostram queda de até 20% após manejo agressivo)

  • Maior incidência de mastite em vacas leiteiras sob estresse crônico

  • Queda nas taxas de fertilidade do rebanho

Riscos para os colaboradores

O manejo inadequado não prejudica apenas os animais, mas coloca em risco a segurança dos trabalhadores:

"Lidamos diariamente com animais de grande porte. Um bovino estressado é imprevisível e perigoso", explica João Martins, veterinário especialista em comportamento animal.

Dados do Ministério do Trabalho apontam que acidentes com bovinos representam parte significativa dos acidentes em ambiente rural, principalmente quando o manejo é agressivo ou inadequado. Animais assustados podem reagir violentamente, causando ferimentos graves ou até fatais nos trabalhadores.

Impactos do manejo inadequado no gado de corte

Para o pecuarista que trabalha com bovinos de corte, o manejo inadequado representa perdas substanciais que podem passar despercebidas no dia a dia, mas são devastadoras para o resultado financeiro da fazenda.

O estresse causado por gritos, pancadas e movimentação agressiva desencadeia respostas fisiológicas nos animais que comprometem diretamente a qualidade da carne. Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Goiás demonstrou que bovinos submetidos a manejo estressante apresentaram níveis elevados de cortisol, resultando em carnes com pH inadequado, coloração escura e textura endurecida – características que reduzem significativamente o valor comercial do produto.

Além disso, animais constantemente estressados apresentam:

  • Redução de até 18% no ganho de peso diário

  • Maior suscetibilidade a doenças respiratórias, comuns em confinamentos mal manejados

  • Menor eficiência na conversão alimentar, elevando o custo de produção

  • Maior incidência de hematomas e lesões que resultam em descarte de partes nobres da carcaça

Um levantamento realizado em frigoríficos brasileiros revelou que aproximadamente 20% das carcaças bovinas apresentam algum tipo de lesão decorrente de manejo inadequado.

Consequências do manejo inadequado na pecuária leiteira

Na produção leiteira, os efeitos do manejo inadequado são particularmente evidentes e impactam diretamente nos indicadores produtivos diários. As vacas leiteiras são extremamente sensíveis ao estresse e respondem rapidamente com redução na produção.

Pesquisas da Embrapa Gado de Leite demonstram que vacas submetidas a manejo agressivo durante a ordenha podem reduzir a produção em até 10% imediatamente após o evento estressante. Quando o manejo inadequado se torna rotina, as perdas se acumulam.

Outros problemas frequentes em rebanhos leiteiros mal manejados incluem:

  • Maior incidência de mastite clínica e subclínica, principal doença econômica da pecuária leiteira

  • Elevação da contagem de células somáticas (CCS), que reduz o valor pago pelo litro de leite

  • Retenção de leite (conhecido como "leite residual"), quando a vaca estressada não libera completamente o leite

  • Problemas reprodutivos, com aumento no intervalo entre partos e redução na taxa de concepção

  • Menor longevidade produtiva das vacas, com descarte precoce de animais

A diferença que o manejo racional faz

Adotar práticas de manejo racional representa uma transformação significativa nos resultados da fazenda, seja na produção de carne ou leite. Os impactos positivos são sentidos em diversos aspectos da produção:

No gado de corte:

  • Aumento no ganho de peso diário

  • Redução de hematomas e lesões de carcaça

  • Melhoria na classificação de carcaças, com aumento no rendimento de cortes nobres

  • Redução nos custos com tratamentos veterinários

  • Diminuição da taxa de mortalidade em confinamentos (de 2-3% para menos de 1%)

  • Melhor conversão alimentar, refletindo nos custos com alimentação

Na pecuária leiteira:

  • Aumento na produção média diária de leite

  • Redução na incidência de mastite

  • Melhoria nos teores de sólidos do leite (gordura e proteína)

  • Diminuição no intervalo entre partos, resultando em mais bezerros e mais lactações

  • Aumento da vida útil produtiva das vacas, reduzindo custos com reposição

  • Melhoria no bem-estar das vacas, com aumento da ruminação e comportamentos naturais.

Como implementar o manejo racional na sua propriedade

Para o pecuarista que busca resultados consistentes, algumas práticas são fundamentais:

1. Compreenda a zona de fuga e o ponto de equilíbrio

Os bovinos possuem uma "zona de fuga" – distância que consideram segura em relação a pessoas ou objetos estranhos. Conhecer e respeitar essa zona permite movimentar o gado sem estresse excessivo.

O professor Temple Grandin, referência mundial em comportamento animal, desenvolveu métodos que utilizam o "ponto de equilíbrio" (linha imaginária na altura da paleta do animal) para movimentar o gado com mínimo estresse.

2. Invista em infraestrutura adequada

Curral bem planejado, com corredores curvos, paredes sólidas e sem pontas, reduz drasticamente o estresse durante o manejo. Esses detalhes fazem enorme diferença na produtividade do rebanho e na segurança dos trabalhadores.

Um bom curral não precisa ser luxuoso, mas precisa ser funcional e respeitar o comportamento natural dos bovinos.

3. Treine sua equipe constantemente

O fator humano é decisivo no manejo racional. Colaboradores bem treinados compreendem a importância de evitar gritos, pancadas e outros comportamentos que estressam o gado.

4. Utilize tecnologias a seu favor

Novas tecnologias estão revolucionando o manejo na pecuária brasileira:

  • Balanças de pesagem com contenção adequada

  • Sistemas de identificação eletrônica

  • Aplicativos para monitoramento de comportamento animal

  • Troncos de contenção hidráulicos que reduzem o estresse

O futuro da pecuária passa pelo manejo racional

O agronegócio brasileiro caminha para um cenário onde as práticas de manejo racional não serão apenas diferenciais competitivos, mas requisitos básicos para acessar mercados mais exigentes.

Consumidores cada vez mais conscientes demandam produtos de origem animal obtidos por meio de práticas humanitárias. Certificações de bem-estar animal ganham importância e podem significar melhor remuneração para o pecuarista atento a essas tendências.

Não é mais possível pensar em pecuária moderna sem considerar o bem-estar animal como pilar fundamental.

Para o produtor rural que deseja se manter competitivo, a mensagem é clara: o manejo racional não é apenas uma questão ética, mas uma decisão estratégica com impactos diretos na saúde financeira do negócio.

Comece hoje mesmo a transformar sua fazenda

Implementar o manejo racional pode parecer desafiador inicialmente, mas os resultados aparecem rapidamente. Comece com pequenas mudanças:

  1. Observe como seus animais reagem ao manejo atual

  2. Identifique pontos críticos de estresse na sua propriedade

  3. Busque capacitação para você e sua equipe

  4. Faça adaptações possíveis na infraestrutura existente

  5. Monitore e compare resultados antes e depois das mudanças

O sucesso na pecuária moderna depende da nossa capacidade de aliar produtividade com práticas sustentáveis e éticas. O manejo racional do gado representa justamente este equilíbrio que todo pecuarista deve buscar.

Conte a história da sua propriedade, como conseguiu mudar os resultados com o manejo? Técnicos pecuaristas nos conte como seu trabalho tem mudado a realidade de fazendas nesse Brasilzão. Entre em contato com nossa equipe!

Este artigo foi elaborado com base em pesquisas científicas e experiências práticas de especialistas em pecuária. As técnicas de manejo racional mencionadas são aplicáveis tanto para gado de corte quanto para rebanhos leiteiros, respeitando as particularidades de cada sistema produtivo.

herd of sheep on brown field during daytime