Monensina na Nutrição Bovina: Guia Completo para Pecuaristas

NUTRIÇÃO

Veterinário Edson Martins

A monensina sódica já é um aditivo bem familiar para os pecuaristas que buscam maior rentabilidade em seus sistemas produtivos. Este ionóforo, quando adicionado à dieta do gado de forma estratégica, proporciona benefícios significativos que vão desde melhor conversão alimentar até a prevenção de distúrbios metabólicos comuns na produção intensiva.

Monensina na Nutrição Bovina: Guia Completo para Pecuaristas

Este ionóforo pode proporcionar ganhos de até 12% na eficiência alimentar, reduzir drasticamente problemas metabólicos como acidose e timpanismo, e ainda agradar os ambientalistas diminuindo as emissões de metano pelo gado. E reduzir a emissão de metano, significa também, aumentar o aproveitamento do carbono disponível no rúmen. Ou seja, seu bovino engorda mais comendo menos. Por incrível que pareça, muitos pecuaristas ainda desconhecem as diferentes formulações disponíveis no mercado, desde suplementos minerais com baixas concentrações de monensina até as inovadoras cápsulas de liberação lenta que funcionam por até 120 dias.

Neste guia completo, reunimos as evidências científicas mais recentes, as dosagens ideais para cada categoria animal e as estratégias práticas que estão transformando os resultados de muitas fazenda no Brasil. Descubra como este aditivo modulador da fermentação ruminal pode ser o diferencial competitivo que seu sistema produtivo precisa para alcançar novos patamares de produtividade e rentabilidade.

O que é a monensina e como funciona no organismo bovino?

Basicamente, a monensina é um ionóforo produzido pelo fungo Streptomyces cinnamonensis, que age seletivamente na microbiota ruminal, favorecendo bactérias gram-negativas (que produzem mais propionato) e inibindo bactérias gram-positivas (produtoras de acetato, butirato, lactato e hidrogênio).

Quando presente no ambiente ruminal, a monensina altera o transporte de íons através da membrana celular, modificando o gradiente iônico e fazendo com que as bactérias sensíveis gastem mais energia para manter seu equilíbrio interno. Esta ação seletiva resulta em:

  • Maior produção de propionato (precursor da glicose)

  • Menor produção de metano

  • Redução na produção de lactato

  • Melhor aproveitamento da proteína dietética

A monensina age como um 'regente de orquestra' no rúmen, favorecendo microrganismos que geram produtos mais eficientes energeticamente para o bovino.

Tipos de monensina disponíveis no mercado brasileiro

O mercado nacional oferece diversas opções de produtos à base de monensina sódica. Conhecer as diferenças entre elas é fundamental para escolher a mais adequada ao seu sistema produtivo.

1. Monensina em pré-misturas para confinamento

São produtos com concentrações entre 10% e 20% de monensina sódica, formulados especificamente para dietas de confinamento. Geralmente vêm misturados a veículos como farelo de soja ou milho para facilitar a homogeneização na ração total.

2. Monensina em suplementos minerais de baixo consumo

Apresentam concentrações mais baixas de monensina (geralmente 1% a 3%) e são indicados para animais em pastejo. A presença do ionóforo no suplemento mineral ajuda a controlar o consumo e melhora a eficiência da digestão da forragem.

3. Monensina em núcleos proteicos

São formulações que combinam monensina com fontes proteicas, vitaminas e minerais, indicadas para complementar dietas com deficiência proteica, especialmente em períodos de seca.

Benefícios comprovados da monensina para a pecuária

A utilização correta da monensina traz diversos benefícios, cientificamente comprovados, para os sistemas de produção de bovinos:

Melhoria na eficiência alimentar

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) demonstraram que bovinos recebendo monensina apresentaram melhoria de 6% a 12% na conversão alimentar, dependendo da dieta base utilizada. Este ganho de eficiência resulta em menor quantidade de alimento necessária para cada quilo de ganho de peso.

Prevenção de acidose ruminal

Em dietas com alto teor de concentrado, a monensina reduz significativamente o risco de acidose ao controlar bactérias produtoras de lactato. Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) em 2022 mostrou redução de 42% na incidência de acidose subaguda em bovinos confinados que receberam monensina na dieta.

Redução na produção de metano

A pecuária moderna não se preocupa apenas com produtividade, mas também com sustentabilidade ambiental. Neste cenário, a monensina contribui para reduzir a emissão de metano (gás de efeito estufa) pelos bovinos. E essa redução representa também um melhor aproveitamento dos carbonos disponíveis no rúmen. Simplificando, o carbono que seria descartado no metano agora vai ser aproveitado no rúmen na produção dos acidos graxos não voláteis.

"Nossos dados mostram que a inclusão de monensina na dieta reduziu em 15% a produção de metano por quilo de matéria seca consumida, o que representa ganho ambiental significativo quando pensamos na escala da pecuária brasileira", afirma a Drª Rosa Cavalcanti, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste.

Melhoria no aproveitamento proteico

Bovinos suplementados com monensina apresentam menor degradação ruminal da proteína, o que resulta em maior disponibilidade de aminoácidos no intestino delgado. Este efeito é particularmente importante em dietas com fontes proteicas de alto valor biológico.

Prevenção de coccidiose

A monensina também apresenta efeito coccidiostático, ajudando a prevenir surtos de coccidiose, especialmente em animais jovens.

Como utilizar monensina na alimentação do gado

Para obter os benefícios da monensina sem riscos à saúde animal, o pecuarista deve seguir algumas recomendações fundamentais:

Dosagens recomendadas

As dosagens variam conforme a categoria animal e o objetivo:

  • Gado de corte em confinamento: 25 a 33 mg/kg de matéria seca da dieta

  • Gado de corte em pastejo: 80 a 200 mg/animal/dia

  • Vacas leiteiras: 16 a 24 mg/kg de matéria seca da dieta

  • Bezerros (prevenção de coccidiose): 1 mg/kg de peso vivo/dia

Adaptação gradual

O rúmen necessita de tempo para adaptar-se à presença da monensina. Recomenda-se iniciar com metade da dose pretendida e aumentar gradualmente ao longo de 7 a 14 dias.

"A adaptação gradual não é apenas uma recomendação, mas uma necessidade fisiológica. Os microrganismos ruminais precisam deste período para se ajustar à nova condição do ambiente ruminal", explica o zootecnista Carlos Viana, especialista em nutrição de ruminantes.

Cuidados na mistura

Por ser utilizada em doses relativamente pequenas, a monensina exige cuidado especial na mistura com a ração ou suplemento:

  1. Utilize misturadores adequados que garantam homogeneidade

  2. Faça pré-misturas em pequenas quantidades antes da mistura final

  3. Evite misturar diretamente com minerais, especialmente aqueles com partículas muito finas

  4. Monitore periodicamente a concentração na dieta final

Estratégias de uso da monensina em diferentes sistemas de produção

A versatilidade da monensina permite seu uso em diversos sistemas produtivos, desde a pecuária extensiva até os confinamentos de alta tecnologia.

Na recria em pastagem

Nesta fase, a monensina pode ser oferecida via suplemento mineral ou proteico-energético, ajudando a melhorar o aproveitamento da forragem disponível. Um estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostrou que novilhas Nelore recebendo suplemento mineral com monensina durante a recria apresentaram primeira concepção 45 dias antes do grupo controle, evidenciando o impacto positivo na maturidade sexual.

No confinamento

A inclusão de monensina em dietas de confinamento é hoje prática comum entre pecuaristas tecnificados. Além da melhoria na conversão alimentar, a monensina ajuda a prevenir distúrbios metabólicos comuns em dietas com alto teor de concentrado.

"Em nosso confinamento de 30 mil cabeças, observamos redução de 68% nos casos de acidose e timpanismo após a adoção da monensina como aditivo padrão em todas as dietas", relata Antônio Pereira, gerente de um grande confinamento em Goiás.

Na produção leiteira

Para vacas leiteiras, a monensina contribui para melhorar o balanço energético, especialmente no início da lactação, quando o animal enfrenta desafio metabólico significativo.

Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) demonstrou que vacas suplementadas com monensina no período de transição apresentaram menor incidência de cetose (redução de 42%) e deslocamento de abomaso (redução de 37%).

Inovações e tendências no uso da monensina

A pesquisa com ionóforos não para, e novas tecnologias estão surgindo para potencializar os benefícios da monensina:

Associação com outros aditivos

Pesquisadores têm investigado os efeitos sinérgicos entre monensina e outros aditivos alimentares como taninos, óleos essenciais e enzimas fibrolíticas.

Um estudo da Universidade Estadual Paulista (UNESP) mostrou que a combinação de monensina com extrato de tanino de acácia negra resultou em efeito aditivo sobre a eficiência alimentar, superando os resultados obtidos com cada aditivo isoladamente.

Monensina encapsulada

Tecnologias de encapsulamento estão sendo desenvolvidas para proteger a monensina da degradação ruminal, permitindo liberação mais constante e prolongada no ambiente ruminal.

"A monensina nanoencapsulada representa o futuro deste aditivo, pois permite melhor distribuição no ambiente ruminal e reduz a variabilidade de resposta entre animais", afirma o Dr. Ricardo Mello, pesquisador da área de nutrição de ruminantes.

Monensina em sistemas de precisão

Com o avanço da pecuária de precisão, surgem tecnologias que permitem a administração individualizada de monensina conforme as características e necessidades de cada animal.

Em 2023, a Embrapa lançou um protocolo de ajuste de dose de monensina baseado em dados de consumo individual e eficiência alimentar, que tem mostrado ganhos adicionais de 7% na conversão alimentar em confinamentos de alta tecnologia.

Aspectos regulatórios e mercadológicos

É importante destacar que a monensina é um aditivo regulamentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e somente produtos registrados devem ser utilizados.

Em mercados exportadores como a União Europeia, existem restrições ao uso de ionóforos, o que pode impactar produtores que atendem estes mercados. Já para o mercado americano e asiático, principais destinos da carne brasileira, não há restrições relevantes quanto ao uso da monensina.

Monensina: uma ferramenta poderosa

Em um cenário de margens apertadas, a melhoria na eficiência proporcionada pela monensina pode fazer uma grande diferença. Como todo insumo tecnológico, esse aditivo exige conhecimento técnico para sua correta utilização. Recomenda-se sempre buscar orientação de nutricionistas especializados para desenvolver protocolos adaptados à realidade de cada propriedade, considerando aspectos como:

  • Categoria animal

  • Sistema de produção

  • Objetivo produtivo

  • Relação custo-benefício

O investimento em conhecimento sobre este aditivo certamente trará retornos na forma de melhor desempenho do rebanho, maior saúde animal e melhores resultados econômicos para o agronegócio brasileiro.

Você utiliza monensina na alimentação do seu rebanho? Compartilhe sua experiência abaixo ou entre em contato com nossa equipe para receber orientações personalizadas sobre como implementar este aditivo em seu sistema de produção.

white cow on brown field during daytime